
Orcas em cativeiro
Em 2022 aproximadamente 22 milhões de pessoas visitaram os parques SeaWorld nos Estados Unidos para assistira aos shows onde orcas, golfinhos e outros animais marinhos se apresentam com seus treinadores. Porem por trás de uma mascara de alegria e saltos coreografados, há uma longa historia de dor, sofrimento e solidão. Porem as orcas cativas do SeaWorld não são as únicas a participarem deste show de horrores, atualmente ainda existem 53 orcas em cativeiro ao redor do mundo. Porem este numero pode ser ainda maior. De acordo com dados levantados pelo grupo ativista inglês WDC das 166 orcas que foram capturadas da natureza desde a década de 60, 133 morreram em cativeiro.
Primeiras Capturas
As orcas, com sua inteligência impressionante e comportamento social complexo, têm sido objeto de admiração e fascínio ao longo da história. Esta admiração cativante leva milhares de pessoas aos shows aquáticos para vê-las de perto e esta mesma admiração é o que acaba as condenando a uma vida de sofrimento e solidão em tanques minúsculos. Nesta pagina iremos entender como aconteceram as primeiras capturas que deram inicio ao legado de exploração destes animais magníficos.
Até 1960 nenhuma Orca havia sido capturada

Primeira orca capturada. Foto por: W. F. Monaham, 1961
A primeira captura bem sucedida de uma orca que se tem registro ocorreu em novembro de 1961 em Newport Beach, Califórnia. Após ter sido observada nadando próxima a costa por alguns dias a fêmea, que ficou conhecida como "espécime de Newport", foi capturada com o uso redes e transportada para o parque Marineland of the Pacific onde foi presa em um tanque oval de 30m por 15m e 5m de profundidade.
O espécime de Newport faleceu após somente 2 dias de cativeiro, após nadar de forma agitada batendo seu corpo diversas vezes com violência contra as paredes do tanque e começar a convulsionar. Sua autopsia revelou que ela sofria gastrite e pneumonia.
Moby Doll, a primeira orca em exibição
Depois da morte da fêmea de Newport outras tentativas de captura foram realizadas porém sem sucesso e por vezes resultando na morte dos animais. Em 1964, no entanto, uma nova captura bem sucedida foi realizada na Colômbia Britânica, Canadá. Inicialmente a intenção da equipe do Vancouver Aquarium não era capturar uma orca com vida, mas sim abater o animal e usá-lo para confeccionar um modelo em tamanho real e o exibir em seu novo salão.
Após meses de caça eles conseguiram acertar um arpão em uma orca jovem, que mesmo ferida continuou tentando fugir. Segundo Erich Hoyt, autor de Orca: The Whale Called Killer, enquanto a orca ferida lutava para fugir do arpão outras duas orcas de seu bando vieram em seu socorro, empurrando-a para a superfície pra que ela pudesse respirar.
Moby Doll, como a orca ficou conhecida após a captura, ainda resistiu a diversos tiros de rifle antes que o diretor do Vancouver Aquarium voasse até o local e decidisse tentar leva-la para o aquário para que fosse exibida. Eles então tentaram rebocar a orca, que a este ponta já estava exausta, puxando-a pela corda presa ao arpão fincado em suas costas. Ao todo foram 16 horas para que ela fosse arrastada até Vancouver, onde foi presa em um tanque improvisado nas docas de Burrard.
A notícia da captura de uma orca viva logo se espalhou e cientistas foram até o local para realizar diversos estudos. Esta foi uma oportunidade sem precedentes para estudar orcas de perto, algo que era extremamente desafiador em ambiente natural naquela época. Seus comportamentos, vocalizações e interações com humanos foram documentados, contribuindo significativamente para o conhecimento científico sobre esses animais. Por exemplo, cientistas do instituto de oceanografia de Massachusetts realizaram gravações e estudos sobre seus sons e vocalizações. O comportamento de Moby Doll em cativeiro foi uma surpresa para muitos. Ao contrário da imagem de "baleia assassina" que era comum na época, Moby Doll era notavelmente dócil e tranquila. Ela não demonstrou agressividade, mesmo quando em proximidade com humanos. Este comportamento foi amplamente divulgado e ajudou a mudar a percepção pública das orcas, de criaturas temíveis para seres inteligentes e complexos.
Moby Doll em seu tanque improvisado, 1964

Quando Moby Doll foi trazida para o cativeiro, houve uma série de dificuldades imediatas, principalmente com sua alimentação. Orcas são animais altamente adaptados ao seu ambiente natural, e a transição para um tanque pequeno e artificial foi estressante para ela. Moby Doll inicialmente recusou-se a comer, levando os cuidadores a experimentarem diferentes tipos de peixes e métodos de alimentação. Eventualmente, ela começou a aceitar alimentos, mas sua dieta nunca foi totalmente adequada ou natural. Infelizmente, a saúde de Moby Doll começou a se deteriorar ao longo do tempo, além da dieta inadequada, o ambiente confinado e o estresse do cativeiro tiveram grande impacto negativo em sua saúde. Outros fatore como qualidade da água do tanque, falta de espaço para nadar e se exercitar, e impossibilidade de interagir com outras orcas contribuíram para seu declínio físico e psicológico.
Após alguns meses em cativeiro, Moby Doll morreu. A causa exata de sua morte não foi totalmente esclarecida, mas acredita-se que tenha sido uma combinação de fatores relacionados às condições de vida em cativeiro. Sua morte foi um momento triste e serviu como um alerta para os problemas associados ao cativeiro de grandes mamíferos marinhos.
Legado de Moby Doll
A captura e exibição de Moby Doll marcaram o início de uma era em que orcas foram capturadas em números crescentes para entretenimento em parques marinhos. Ela abriu caminho para uma indústria que prosperou às custas do sofrimento desses animais. Os shows com orcas tornaram-se grandes atrações, gerando lucros significativos, e ignorando as necessidades físicas e psicológicas desses seres inteligentes e sociais. O legado de Moby Doll é complexo e multifacetado, especialmente pelo fato dela ter sido a precursora de muitas orcas subsequentemente exploradas em shows e frequentemente mortas de forma prematura em cativeiro. Sua história se tornou um exemplo emblemático dos desafios e das consequências éticas associadas à manutenção de grandes mamíferos marinhos em ambientes artificiais.

Moby Doll sendo puxada pelo arpão e posteriormente sendo retirada de seu tanque, 1964