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Orcas e golfinhos surpreendem cientistas em rara caçada cooperativa no Pacífico

  • Foto do escritor: Andrea Valle
    Andrea Valle
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Em uma descoberta que está redefinindo o entendimento sobre o comportamento de cetáceos, pesquisadores do Canadá e da Alemanha registraram pela primeira vez uma caçada cooperativa entre orcas e golfinhos-de-laterais-brancas-do-Pacífico, um comportamento considerado extremamente improvável e, até agora, inédito.

A observação, descrita em dois estudos publicados nesta quinta-feira (11) no Scientific Reports, reuniu drones, sensores acústicos, imagens subaquáticas e câmeras fixadas nos animais para revelar uma relação surpreendentemente harmoniosa entre espécies que, historicamente, mantêm interações tensas e até competitivas.


Uma parceria improvável no coração do Pacífico

As cenas foram registradas nas águas da Colúmbia Britânica, no Canadá, onde nove orcas residentes eram monitoradas durante a migração de salmão Chinook. Para surpresa dos cientistas, os golfinhos não apenas nadavam lado a lado com os grandes predadores, como mergulhavam com eles e participavam ativamente da localização das presas.

Orcas são conhecidas por protegerem rigorosamente suas capturas e por pouca tolerância quando competidores se aproximam. Ainda assim, em várias ocasiões não houve qualquer sinal de agressividade. Pelo contrário: vídeo após vídeo mostrava coordenação, sincronia e até compartilhamento de alimento.


“As duas espécies se moviam como um único grupo”, relatou a equipe responsável pela observação. “Elas mergulhavam juntas, ajustavam comportamentos e pareciam se beneficiar mutuamente.”

Como funcionava a caçada conjunta

As imagens obtidas com ajuda de câmeras revelaram detalhes impressionantes da cooperação:

Golfinhos como “guias acústicos”

Utilizando sua ecolocalização extremamente precisa, os golfinhos vasculhavam a água em busca dos cardumes de salmão. As orcas diminuíam seus próprios cliques sonares e pareciam “ouvir” o eco gerado pelos parceiros menores, ampliando o alcance da busca sem gastar tanta energia.

Mergulhos coordenados

Sempre que os golfinhos mergulhavam em direção aos peixes, as orcas os seguiam. Em profundidades superiores a 30 metros, onde normalmente ocorre a captura, os golfinhos permaneciam próximos, indicando que não se tratava apenas de coincidência, mas sim de estratégia.

Divisão de alimento

Em pelo menos oito episódios documentados, as orcas dividiram pedaços de salmão Chinook. À medida que despedaçavam o peixe na superfície, fragmentos se soltavam, e os golfinhos se alimentavam deles. Trata-se de um comportamento raríssimo entre espécies diferentes de cetáceos.


Cooperação ou conveniência?

Os cientistas classificam o comportamento como uma “cooperação oportunística”. Para os golfinhos, trata-se de uma chance de acessar um alimento valioso demais para ser capturado por eles sozinhos. Para as orcas, a ecolocalização alheia é uma forma eficiente de identificar cardumes, especialmente durante a migração.

Há ainda uma possível vantagem extra: a presença das orcas residentes, que se alimentam exclusivamente de peixes, pode oferecer proteção indireta contra orcas transitórias, que predam pequenos cetáceos.


O que essa descoberta muda?

A interação registrada desafia suposições antigas sobre cetáceos e reforça a complexidade social e cognitiva desses animais. Até então, associações entre orcas e golfinhos eram interpretadas como competição, curiosidade ou simples tolerância. Agora, surge uma nova categoria: cooperação funcional.

Os pesquisadores ressaltam que mais estudos são necessários para determinar:

  • Se esse comportamento ocorre em outras épocas do ano

  • O quanto cada espécie realmente ganha com a parceria

  • Se outras populações de orcas e golfinhos também cooperam

Mesmo assim, o conjunto de 25 interações observadas já é suficiente para provocar uma revisão profunda sobre como essas espécies se relacionam.


Um marco no estudo da vida marinha

As imagens obtidas em 2020 só foram analisadas integralmente agora, com auxílio de nove drones, sensores acústicos de alta precisão e câmeras subaquáticas. O resultado é um retrato sem precedentes da comunicação e do trabalho conjunto entre duas espécies altamente inteligentes, e até então consideradas rivais por natureza.

Para a ciência, é uma janela rara para comportamentos complexos que podem estar mais presentes no oceano do que imaginamos. Para nós, é um lembrete poderoso de que o mar ainda guarda histórias capazes de desafiar nossas expectativas e encantar até os pesquisadores mais experientes.

 
 
 

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